Os meus atletas - A Formação


Faz já muito tempo que por aqui não deixo qualquer post, pedindo desde já as mais sinceras desculpas aos visitantes do espaço.
Regresso às mensagens para falar da formação no futsal em geral e no que ao Ervedalense em particular diz respeito.
É confrangedor a forma como os jovens e os pais vêm e adoptam atitudes perante o desporto seja ele federado ou não (desporto escolar). Vivemos num mundo cego de atitudes e valores que nos levam a caminhos que vão dar a lugar nenhum. Isto a propósito de ser cada vez mais frequente o desleixe manifestado por atletas e pais não mostrando interesse e preocupação no valor do cumprimento dos compromissos e respectivas responsabilidades. Banalizaram-se os castigos impostos aos jovens por terem obtido más notas no percurso escolar, proibindo-os da prática desportiva, como se fosse ela a culpada dos insucessos de todos e de tudo o que rodeia o jovem atleta. Em todos os anos que levo de actividade desportiva nunca consegui encontra uma causa-efeito neste particular. Continuo a ter atletas que não falham a um treino nem a um jogo e são alunos excelentes, e tenho outros que falham sistemáticamente e têm más notas. Não consigo assim encontrar explicação para a tomada de posição de alguns pais.

A isto há que juntar a perplexidade com que fico quando vejo os jovens que estão proíbidos da prática desportiva, andarem na rua, continuarem a utilizar os computadores para os chats, ou video-jogos, sem quaiquer regras ou condutas, algo que o desporto, nomedamente o federado, a tal obriga.


É notório e cada vez mais ascendente o número de obesos infantis e adolescentes que vão proliferando pelo país. A falta de exercício físico aliada a uma má alimentação tem sido o factor determinante para o aumento deste problema. E, o que é curioso é que salta à vista desarmada de qualquer um de nós que é no interior onde isso mais acontece, fruto provávelmente dos comportamentos e atitudes já atrás referidos. Até nos atletas que defrontamos deparamo-nos com problemas ligados muito ao físico e ao psicológico com um saldo manifestamente negativo para o nosso lado. Os jovens do litoral apresentam-se com outra estrutura atlética e outra atitude para o jogo que não encontramos nos nossos. Algo que contraria a regra de há tempos idos, quando jogador de futebol, em que os atletas do litoral tinham "medo" de jogar com as equipas do interior, não porque fossem maldosas, mas devido à sua atitude "guerreira" que impunham ao desafio.


Hoje os atletas, muito por culpa do computador, das play-stations, e de outros afins, vão ao treino quando lhes apetece com a conivência dos pais. O que eles querem é jogar. Treinar dá trabalho, exige esforço, dedicação, concentração, regras, estratégias, táticas. raciocínio, metas e objectivos, e isto é algo a que os jovens tentam fugir.


Hoje começo a constatar que mais de 80% dos atletas que falham aos treinos são alunos sem método de estudo, sem vontade de estudar, sem objectivos, sem regras. São vários os exemplos que poderia aqui enumerar mas que não o farei por razões que compreenderão seria anti-ético e imoral se o fizesse. Porque mesmo esses têm da minha parte o meu respeito e a mesma amizade e consideração que tenho com os outros. Continuam a ser meus atletas ou ex-atletas, jovens que respeito, a quem dirigi o mesmo tipo de discurso e afinidade, mas que por razões que me ultrapassam não consegui que apanhassem o mesmo "comboio" do trabalho e do sucesso.


Apesar de todas estas viscicitudes continuo a achar o trabalho de formação aliciante, desafiante, e gratificante. Vale a pena lutar e não desistir destes jovens que muitas das vezes, se não na totalidade, são vítimas de uma sociedade cada vez mais virada para dentro de si própria não enxergando ou não querendo enxergar o mundo que a rodeia.


Saudações para todos os jovens que encontrei nos desafios desta época, assim como para os meus colegas, que tal como eu suponho que se depararão com o mesmo problema, e em especial para os meus "bravos" que à sua maneira e com os vários condicionalismos, chegaram ao fim de cabeça erguida e vencedores de mais uma etapa da sua vida.


As vitórias não se vêm só nos pontos e nos troféus alcançados, vêm-se na humildade e nos valores sociais, culturais, e humanos. Neste particular os meus jogadores foram uns verdadeiros campeões.


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